domingo, 12 de outubro de 2008

Roberto Ribeiro, uma voz que não pode calar !


As escolas de samba vivem um paradoxo: são um celeiro de cantores, popularmente chamados de "puxadores", mas raros fazem sucesso fora das quadras. Uma das exceções é José Bispo Clementino dos Santos, Jamelão, da Mangueira, cantor, intérprete de samba-enredo – jamais um "puxador", como se recusa a ser chamado. Outro dos raros exemplos é Roberto Ribeiro – assim mesmo com o verbo no presente, pois Roberto continua vivo nas gravações (poderiam ser em maior número), vídeos (raros). E principalmente na lembrança de quem ouviu aquela voz de timbre muito especial.

Nascido Demerval Miranda Maciel, Roberto é sinônimo de Império Serrano, ao lado do maior compositor de sambas-enredos da história, Silas de Oliveira (Heróis da Liberdade, Tiradentes), de Mano Décio (parceiro de Silas), Dona Yvonne Lara, Mestre Fuleiro, e por aí vai. Além de puxador, Roberto era da ala de compositores da escola – chegou a fazer dois sambas para a avenida.

A voz translúcida de Roberto Ribeiro deixou para sempre o registro de algumas obras-primas de Silas, além de jongos – uma das marcas registradas do morro da Serrinha – e uma fieira de belíssimos sambas de terreiro. Uma das duas melhores gravações de Senhora Tentação (Meu Drama), de Silas, é dele. A outra é de Cartola. Roberto teve ainda a sensibilidade de deixar registrado um samba-enredo que, apesar de não ter sido o escolhido na quadra para ir à avenida, no carnaval de 1975, durante anos foi cantado nas rodas. A divulgação do samba era feita espontaneamente nos bares e biroscas do Rio. Estrela de Madureira ("Brilhando / num imenso cenário...") sobreviveu durante muito tempo sem estar gravado. Com Roberto Ribeiro, garantiu a perpetuidade. Puxador de samba na avenida, aos poucos Roberto conquistou palcos e estúdios. Mas nunca se desligou da Serrinha. Nos dias de desfile do Império podia ser visto no asfalto com terno de linho branco, camisa verde e óculos escuros, para proteger a vista, atacada por uma doença irreversível.

Fluminense de Campos, morreu em 1996, vítima de um atropelamento. Foi-se muito cedo, aos 55 anos de idade. Seguiu o destino de Silas, que, em 1972, aos 56, sofreu enfarte fulminante depois de cantar sambas seus em uma roda em Botafogo. Roberto Ribeiro estava presente. Continua presente.

Aluizio Maranhão
ENSAIO
29/1/1991

Está faltando uma coisa em mim
E é você, amor
Tenho certeza, sim
Nossos momentos foram algo mais
Sem eles hoje eu não tenho paz
Está
Está faltando uma coisa em mim
E é você, amor
Tenho certeza, sim
Nossos momentos foram algo mais
Sem eles hoje eu não tenho paz
Eu vou parar num canto
E me perguntar se vai compensar
Por esse pranto que carrego
E eu nego que eu dou
Ah! Esse amor
Que está fazendo tanta falta no meu mundo
Vou lhe perguntar
Está
Está faltando uma coisa em mim
E é você, amor
Tenho certeza, sim
Nossos momentos foram algo mais
Sem eles hoje eu não tenho paz
Eu não sou de aço
Pois o laço forte
Um convívio bom tem seu lugar
E como a vida passa
Me resta somente tomar a decisão de levantar
O pano do meu barco
E navegar juntinhos
Está faltando uma coisa em mim
E é você, amor
Tenho certeza, sim
Nossos momentos foram algo mais
Sem eles hoje eu não tenho paz
Está
Está faltando uma coisa em mim
E é você, amor
Tenho certeza, sim
Nossos momentos foram algo mais
Sem eles hoje eu não tenho paz
Vazio (Está Faltando uma Coisa em Mim), Nelson Rufino. Copyright by EDIÇÕES MUSICAIS TAPAJÓS LTDA. (EMI).

***

Eu nasci em Campos, Rio de Janeiro.

***

Ah, lembro, sim. Meu pai Antônio Ribeiro de Miranda e dona Júlia Francisca Miranda. Meu pai foi jardineiro, sofreu muito, já morreu há trinta e tantos anos atrás. Tem algumas coisas que marcou na vida do meu pai que é duro de lembrar agora, mas ele cantava uma música que marcou muito em mim, sabe?, que é uma música chamada Jardineira, a marchinha Jardineira (cantarola): "Ô, jardineira, por que estás tão triste, mas o que foi que te aconteceu? Foi a camélia que caiu do galho, deu dois suspiros e depois morreu". E a minha mãe cantava uma música que era uma homenagem a... É... Me lembra uma música que Jorge Veiga cantava. Não dá agora. É um negócio muito emocionante, não dá pra lembrar agora. Desculpe, mas eu fico devendo essa aí.

***

Se meu pai era bravo? Não. Eu acho que uma pessoa que trabalha com as plantas não pode ser bravo, trabalha com as flores. Também tinha muito crioulo dentro de casa, muita gente, estão quase todos vivos, a rapaziada é a maior parte músico, outro é lanterneiro, outro é pintor. Sabe como que é? Eu tô aqui numa boa. Meu pai era maravilhoso, gente fina.

***

Na minha terra tem um negócio que marcou muito na minha infância, eu tinha dez anos, por aí, chamado Boi Pintadinho. É uma festa bonita de carnaval, o pessoal cantava, eu lembro do refrão, que dizia assim (cantarola):

Olha a cara do boi.
Ê boi.
Olha o peito do boi.
Ê boi.
Olha o rabo do boi.
Ê boi.
Olha o olho do boi.
Ê boi
Olha o boi
Ê boi
Aí o boi baixava, né? Aí daqui a pouco pintava uma música e o cara cantava assim:

Levanta, meu boi, levanta
Que é hora de levantar
O Roberto está falando, rapaziada
Vamos marcar
Levanta, meu boi, levanta
Que é hora de viajar

E o boi levantando. Daqui a pouco ele levantava e eles começavam:

Olha a cara do boi
Ê boi
Olha o rabo do boi
Ê boi
Boi. D.P.

Era assim o Boi Pintadinho, está lá até hoje.

***

É, com nove anos de idade eu tinha que ajudar a família, porque a família sempre foi muito devagar, não tinha nada realmente, muito grande, e todo mundo tinha que se virar. Eu com nove anos de idade entregava leite, trabalhava na leiteria lá na minha terra e saía às cinco horas da manhã pra entregar o leite na porta das pessoas. E sempre... Tinha uma música que marcou muito a minha vida, uma música cantada pela saudosa Elizeth Cardoso, uma música do Chocolate, Canção de Amor. Essa me marcou muito, tinha nove anos de idade.

Saudade
Torrente de paixão
Emoção diferente
Que aniquila a vida da gente
Numa dor que eu não sei de onde vem
Deixaste
Meu coração vazio
Deixaste a saudade
Ao desprezares aquela amizade
Que nasceu ao chamar-te meu bem
Nas cinzas dos meus sonhos
Um hino então componho
Sofrendo a desilusão que me invade
Canção de amor
Saudade
Canção de Amor, Dorival Silva/Elano de Paula. Copyright by TODAMÉRICA MÚSICA LTDA. (ADDAF).

É muito difícil achar material sobre Roberto Ribeiro,
mas existe uma outra Biografia que eu achei excelente.
Esta segue abaixo.
( Fonte: Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira. ).

Biografia:

Cantor. Compositor.

Ex-jogador de futebol profissional em sua cidade natal.

Ao final da vida, foi acometido por uma doença na visão, que acabou por perder.

Foi casado com a compositora Liette de Souza.

Faleceu no Rio de Janeiro.

Dados Artísticos:
Em 1972, em parceria com a cantora Elza Soares gravou três compactos pela Odeon. Neste mesmo ano, a gravadora, satisfeita com o sucesso dos compactos, lançou o LP "Elza Soares e Roberto Ribeiro".

Em 1973 gravou o LP "Simone et Roberto Ribeiro - Brasil Export 73 Agô Kelofé", lançado pela gravadora Odeon somente para o mercado externo.

No ano de 1975, a Odeon lançou o compacto duplo "Sucessos 4 sambas", no qual Roberto Ribeiro interpretou "Leonel/Leonor" (Wilson Moreira e Neizinho). Ainda neste ano, despontou com os sucessos "Estrêla de Madureira" (Acyr Pimentel e Cardoso) e "Proposta amorosa" (Monarco), ambas incluídas no LP "Molejo". A partir daí, sua carreira começou a ser notada pela crítica e pelo público, graças à beleza da sua voz e perfeito timbre para cantar o samba carioca. Um ano depois, lançou dois grandes sucessos nas rádios de todo o Brasil: "Tempo É" (Zé Luiz e Nélson Rufino) e "Acreditar" (Ivone Lara e Délcio Carvalho), ambas de seu disco "Arrasta povo".

Em 1977, gravou "Liberdade" (Dona Ivone Lara e Délcio Carvalho) no disco "Poeira pura", pela EMI. No ano posterior, o sucesso de "Todo menino é um rei" (Nélson Rufino e Zé Luiz) o colocou outra vez na lista dos disco mais vendidos. Do mesmo disco, outras músicas também despontaram nas emissoras, como "Amei demais" (Flávio Moreira e Liette de Souza) e "Isso não são horas" (Catoni, Chiquinho e Xangô da Mangueira) e "Meu drama" (Silas de Oliveira e J. Ilarindo), música incluída como tema da novela "Pai Herói", da TV Globo, fazendo um grande sucesso nacional, divulgada também no disco da novela, lançado pela gravadora Som Livre.

Em 1979, lançou pela gravadora Odeon o LP "Coisas da vida". Entre as mais tocadas desse disco estavam "Vazio" (Nélson Rufino), conhecida na época como "Está faltando uma coisa em mim", e "Partilha" (Romildo e Sérgio Fonseca). No ano seguinte, gravou em seu disco "Fala meu povo", algumas composições suas, como "Vem", em parceria com Toninho Nascimento. Deste LP, constaram alguns sucessos da época, como "Só chora quem ama" (Wilson Moreira e Nei Lopes) e "Quem lucrou fui eu" (Monarco). Neste mesmo ano, a Fundação Nacional de Arte (Funarte), fez uma tiragem promocional deste disco.

Em 1981, lançou o LP "Massa, raça e emoção", com o sucesso "Santa Clara Clareou" (Zé Baiano do Salgueiro).

No ano de 1983, interpretou no LP "Roberto Ribeiro", um sucesso de sua autoria, "Algemas"(c/ Toninho Nascimento). No ano seguinte, gravou outra parceria sua com Toninho Nascimento, "Lágrima morena", em seu disco "De Palmares ao tamborim", lançado pela EMI. Neste mesmo ano participou do disco "Partido alto nota 10", de Aniceto do Império, no qual interpretaram em dueto a faixa "Chega devagar", de autoria de Aniceto do Império.

Em 1985, lançou o LP "Corrente de aço", que contou com a participação de Chico Buarque na faixa "Quem te viu, quem te vê" (Chico Buarque) e de Nei Lopes na música "Malandros maneiros" (Nei Lopes e Zé Luiz).

Gravou o disco "Sorri pra vida" no ano de 1987, obtendo sucesso com a faixa "Ingrata paixão" (Mauro Diniz, Adilson Victor e Ratinho). Um ano depois, lançou "Roberto Ribeiro", disco que contou com a participação especial de Alcione na faixa "Mel pra minha dor" (Nélson Rufino e Avelino Borges) e do Grupo Raça na música "Malandro mais um" (Ronaldinho e Carlos Moraes).

Em 1995, a gravadora EMI-Odeon lançou o CD "O talento de Roberto Ribeiro", no qual compilou 22 sucessos de seus vários discos. Neste mesmo ano, participou do disco-homenagem "Clara Nunes com vida", produzido por Paulo César Pinheiro, no qual interpretou, (com sua voz acrescida posteriormente) em dueto com Clara Nunes "Coisa da antiga", de Wilson Moreira e Nei Lopes.

No ano de 2003, Neguinho da Beija-Flor prestou-lhe homenagem póstuma incluindo a faixa "Recomeçar" no disco "Duetos", lançado pela gravadora Indie Records.

No ano de 2006 Liette de Souza lançou o livro "Roberto Ribeiro 10 anos de saudade", na Sala Baden Powell, no Rio de Janeiro. Na ocasião o grupo Caviúna, formado Luciano Macedo (voz e percussão), Abel Luiz (cavaquinho), Patrick Ângelo (violão de 7 cordas), João Rafael (pandeiro) e Chico Abreu (surdo), prestou homenagem ao compositor com o show homônimo, que contou também com a participação de Alex Ribeiro (filho de Roberto Ribeiro) e ainda de, Zé Luiz do Império e as pastoras do Império Serrano.

Obra:
Algema (c/ Toninho Nascimento) • Bate coração (c/ Toninho Nascimento) • Braços abertos (c/ Toninho Nascimento) • Caro amor (c/ Joel Menezes) • Chafariz (c/ Toninho Nascimento) • Conchas e estrelas (c/ Toninho Nascimento) • Desbandeirar (c/ Toninho Nascimento) • Devaneios e tramas (c/ Toninho Nascimento e Nélson Rufino) • Divina invenção (c/ Serafim Adriano e Liette de Souza) • Ebó (c/ Toninho Nascimento) • Engenho Novo (c/ Joel Menezes) • Eu sou assim (c/ Nivaldo Duarte) • Império bamba (c/ Joel Menezes) • Lágrima morena (c/ Toninho Nascimento) • Miçanga (c/ Toninho Nascimento) • Noite amiga (c/ Joel Menezes) • Quem sabe amanhã (c/ Toninho Nascimento) • Rosas do mar (c/ Toninho Nascimento) • Serra, Serrinha, Serrano (c/ Toninho Nascimento) • Sorri pra vida (c/ Liette de Souza) • Vem (c/ Toninho Nascimento).
Meu tributo pessoal à Roberto Ribeiro.

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